terça-feira, 24 de agosto de 2010

ESPECIAL BADFINGER - PART 1 - MAYBE TOMORROW

Queria contar uma história que fosse apenas ficção. Mas não vou. Tudo o que você vai ver aqui aconteceu de verdade. A história nunca foi justa. Muito menos com Badfinger. É emocionante ver seu nome voltar a aparecer depois de quase quarenta anos, que foram literalmente devorados pela indústria fonográfica, gravadoras, executivos safados e empresários mercenários, sendo jogados diretamente no limbo. Num purgatório em que, sem dúvidas, não deveriam estar. Purgatório, não. O verdadeiro inferno! Mas as coisas estão melhorando. Hoje existem centenas de sites (alguns bem bacana, outros, não!),os discões estão sendo remasterizados para lançamento muito em breve e tudo começa a clarear. Inclusive, existe uma história que existe o roteiro de um filme sobre eles em Hollywood. Shine on! Finalmente, eles têm algum reconhecimento. Os sobreviventes finalmente começam a ver a cor de alguns tostões. Ótimo para as famílias de Pete e Tom, que até alguns anos não recebiam um centavo sequer de direito autoral.

O que aconteceu com o Badfinger? Eles foram sucesso! Apareceram nos charts!
Por que eles foram execrados da mídia dessa forma? Por causa das tragédias? É possível. O objetivo deste nosso trabalho é tentar entender isso da forma mais clara possível. E homenageá-los, lógico. Vamos começar fazendo um passeio por 1970. Um ano difícil para o rock. Um ano que parecia fechar um ciclo. Que encerrava a década mais legal que a humanidade já experimentou. Depois, vamos conhecer um pouco mais sobre Power Pop. O gênero que se tornou a marca registrada do Badfinger. Então voltaremos no tempo até 1966. Vamos passar por Liverpool, dar uma olhada no panorama musical da época. Em Swansea, veremos o que os Iveys estavam aprontando. Daí pra frente, a história segue seu curso normal. Até o fim.

1970. Com toda certeza, um ano de muitas mudanças e transformações para a história da música popular. Um ano que tinha tudo para ser até “ruim” para o Rock. Mas não foi tão mal assim! Com as mortes de Morrison, Joplin, Hendrix, o fim dos Beatles e John Lennon decretar que o sonho havia acabado, o futuro se mostrava muito incerto. O som que estava na moda era o tal de “rock progressivo”. Uma chatice sem igual! Músicas muito longas, sintetizadores demais, viagens demais. Mas, 1970 é marcado como o ano do surgimento das grandes bandas de “heavy metal”. Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple e tantas outras. Ok! Mas, só isso, naquela época era uma chatice sem igual. Depois do fim dos Beatles, que fim teria a música pop, também romântica e melódica? Então, apareceu Badfinger com seu alegre, possante e poderoso rock and roll e suas mais lindas baladas, usando guitarras absolutamente explosivas. Surgiu o rótulo “Power Pop”. Power Pop? O que é isso?

POWER POP - A FORÇA DE UM ESTILO

A terminologia “power pop”, uma das mais charmosas vestes do rock e da música popular, foi cunhada ainda em 1966, por Pete Townshend para definir uma contagiante progressão de acordes melódicos e poderosos de uma de suas canções. Sem dúvida, o Who (anterior a Tommy), os Beatles (pré-Sgt.Peppers), o british beat dos 60's, as girls groups americanas de Phil Spector, a surf music, a escola Motown e baluartes sessentistas como os Turtles, Monkees, The Hollies e Tommy James And The Shondels formaram o alicerce desse fenômeno nascido no início dos anos 70. Se o rhythm'n'blues representa a esquerda do rock, com sua atitude arredia e suja, o power pop, em sua postura clean e de fácil acesso comercial, representa a direita. Por essa (in)consciente divisão político-musical é que o power pop é uma faca de dois gumes, pois geograficamente habita uma região muito específica e pode ser confundido com sua oportunista vizinhança comandada pela baba descartável. Seu habitat preza acima de tudo a melodia, a espontaneidade, a inocência e a energia. Ama as guitarras e os riffs
contagiantes, propõe a dança, instiga o assovio e não esconde seu glamour adolescente. As raízes desse complexo movimento datam do início dos anos 70 quando o grupo inglês Badfinger, abençoado pelos Beatles, assinou com o selo Apple, e os americanos Raspberries e Stories explodiram na América. Na sequência, o Blue Ash e o Big Star de Alex Chilton recriaram o uso de guitarras em texturas ultrapessoais e melodias dignas dos melhores momentos de Lennon e McCartney.

O glitter rock, detrás da sua espatifaria de cores e poses, muito absorveu da concepção powerpopster. E por isso se encontra presente em criações do T.Rex, Wizard, Alvin Stardust e Suzi Quatro. Mas, a usurpação do gênero por descartáveis como Rubettes, Mud, Gary Glitter e Kenny borrou sua imaculada concepção, gerando o desdém da crítica.

Hoje em dia, tudo está muito mudado e o POP que se faz é cada vez mais vagabundo. Power Pop? Esse moleque, Justin não-sei-de-quê é classificado como power pop. Vanessa Camargo é power pop. Tudo isso, só faz aumentar a vontade de voltar a ouvir todos aqueles grupos maravilhosos e sua música tão boa, alegre, colorida e divertida. Isso é POWER POP de verdade. ISSO É BADFINGER!

1966. Swansea. Sul de Wales. País de Gales - Inglaterra. Os Beatles já são THE BEATLES - já conquistaram até a América algumas vezes. Os Rolling Stones já são THE ROLLING STONES, e também já foram lá. Os Kinks são THE KINKS e os Iveys não são muita coisa. Apenas mais um grupo de rapazes que têm uma banda boa e um sonho: tornarem-se ricos e famosos. Mas estão andando em círculos.

Eles são: Pete Ham (Peter William Ham - guitarra e vocais), David “Dai” Jenkins (guitarra e vocais), Ron Griffiths (baixo) e Mike Gibbins (Michael George Gibbins - bateria). Pete Ham nasceu em 27 de abril de 1947 na cidade portuária de Swansea e era o mais novo de três filhos. Um jovem ativo e criativo, sua grande paixão desde criança sempre foi a música. Seu pai era um fã das "big bands" e seu irmão mais velho tocava trumpete. Pete começou tocando gaita de boca, com apenas 4 anos, mas depois passou a tocar violão e guitarra, mostrando-se muito talentoso. Conseguiu seu primeiro violão em 1959 e já no início dos anos 60 fazia parte de um trio chamado The Panters que tocava covers do grupo The Shadows (banda de apoio de Cliff Richards). Posteriormente, transformaram-se num quinteto, utilizando outros nomes como Wild Ones e Black Velvets. Os integrantes iam se sucedendo, até que chegou Ron Griffiths - nascido em 2 de outubro de 1946 - para o baixo, com fortes influências musicais do The Shadows e do The Ventures. Mike Gibbins - nascido em 12 de março de 1949 - tornou-se o baterista da banda e elevou ainda mais o nível do grupo com seu estilo. No final desse ano, passaram a fazer shows de abertura para outros grupos como The Who, The Yardbirds e The Moody Blues, entre outros.

Nessa época, não tinham empresário fixo, mas conseguiam tocar nos melhores pubs da cidade. Todas as noites. De domingo a domingo. Pete e David (mais velhos) cuidavam das finanças do grupo, o que era um desastre, pois o dinheiro ganho em cada noite era gasto naquela mesma noite! Anos depois, iriam pagar um preço altíssimo por essa falta de comprometimento com as finanças. Seu repertório variava entre composições próprias (de Pete) e covers dos seus heróis, os Beatles, principalmente. Passavam com facilidade do Blues clássico ao mais puro Rock’n’Roll. Os Iveys realmente pareciam saber aonde queriam chegar. Tinham um grupo de fãs que era muito fiel e, onde quer que fossem tocar, lá estavam eles. Numa dessas noites, quando tocavam no Regal Ballroon em Ammanford, sul de Wales, a sorte dos Iveys começaria a mudar. Foram vistos por um homem, Bill Collins, que tinha fama de “exportar” conjuntos. Também era conhecido por ter bons contatos em Londres. Disse-lhes que estavam perdendo tempo em continuar em Swansea. Que Londres era o lugar deles e coisa e tal. Prometeu-lhes shows nas melhores casas. Nenhum dos Iveys vacilou um minuto sequer. Em dezembro de 1966, antes das festas, Pete, David, Ron e Mike partem para Londres, para tentarem se tornar OS IVEYS de verdade. Mas antes, iriam fazer 3 shows em Liverpool.

Liverpool. A coisa aqui é bem diferente da pacata, comportada e pequena Swansea. O pau aqui quebra mesmo!!! Liverpool é a Meca dos Beatles. Foi onde a bomba explodiu primeiro. E quem achou que três anos depois daquela explosão tudo tivesse se acalmado se enganou. E se enganou muito. Liverpool respira Rock”n”Roll. Bons conjuntos surgem todos os dias.
Os Beatles são os artistas mais populares do planeta! E são daqui. Cada dez entre dez jovens querem ser como eles. Querem se tornar astros da noite para o dia, e ter uma banda “The Qualquer Coisa”.Tom Evans (guitarra e vocais), do grupo The Calderstones, não é diferente dessa maioria. Compositor e cantor de talento nato, Tom só pensa em encontrar uma maneira de se tornar um popstar. A primeira vez que viu os Beatles, no Cavern, tinha doze anos. Assistiu praticamente a todos os shows que os Fabs fizeram lá, até se mudarem para Londres. Agora, 1967, os Calderstones andam desanimados pela falta de maiores perspectivas. Mas não desistiram e continuaram tocando. Foi numa dessas apresentações que conheceram os Iveys.

Londres. 1967 começou a todo vapor para os Iveys. O ano inteiro seria de muito trabalho. Continuavam tocando praticamente todas as noites e excursionavam por todos os cantos do Reino Unido. Outras vezes, eram contratados para temporadas específicas em casas, muitas vezes, famosas. Foram também para a Alemanha, onde arrebataram um bom número de fãs ardorosos. Os Iveys estavam melhores a cada dia! Porém, nada de gravações. As propostas que recebiam era para gravar canções consagradas de grandes bandas. Nada de composições próprias Tentaram na CBS, Pye, Decca, Phillips e nada!

Estavam cansados. Sua música havia crescido. Eles também. Um contrato de gravação era fundamental para o ego da banda. Há algum tempo, David Jenkins não estava satisfeito com o grupo e pediu para sair. Pete não teve dúvidas. Ligou para um jovem guitarrista que tinha conhecido há alguns meses nos circuitos noturnos durante a turnê por Liverpool e de quem se tornara amigo. Tom Evans aceitou na hora! Pete sempre foi louco pelos Beatles. Tom também. Essa característica em particular seria determinante na criação de toda a sua obra.

Tom não trouxe apenas novo astral para os Iveys. Trouxe também toda a sua habilidade como compositor, cantor e instrumentista. Também trouxe sorte.
Ray Davies, líder dos Kinks, viu uma apresentação deles. E gostou muito do que viu. E quis produzi-los. Mas não quis tanto assim. A coisa acabou não se concretizando. mas, numa dessas noites em que tudo dá certo, foram vistos por Mal Evans, o velho amigo e road dos Beatles desde o princípio. Mal Evans ligou para Neil Aspinall dizendo que tinha encontrado o que eles procuravam e marcaram o encontro para o outro dia.

E lá estavam eles Pete, Tom, Mike, Ron, Bill Collins e Mal Evans no escritório de Neil Aspinall, na Apple Records. Pete lhe entregou uma fita demo, contendo o material dos Iveys e pediu que ouvisse com muita atenção. Neil Aspinall não era do tipo que ficasse muito admirado com jovens tentando o estrelato. Conheceu os Beatles bem antes da fama. Mas teve boa impressão em relação aos meninos. Não só ouviu a fita dezenas de vezes como a entregou para Paul McCartney. Paul, por sua vez, mostrou-a a John, George e Ringo, que decidiram contratá-los. Mas, não vão gravar assim tão logo de cara, não. Paul não viu, nem ouviu na fita, nada que se parecesse com um hit em potencial. No dia 23 de julho de 1968, os Iveys assinaram o contrato com a Apple Records.

Ôba! Agora os Iveys são artistas contratados da Apple Corps. O trabalho dobrou. O dinheiro também. Todos estão felizes e orgulhosos. Especialmente Pete e Tom, que se entrosavam mais e mais a cada dia e cresciam como compositores. Quer estivessem juntos ou separados, os dois estavam compondo aquelas músicas que até hoje podem fazer chorar ou dar pulos de dois metros de altura. "Walk out in the rain" é dessa época. "Midnight Sun" também. Além das viagens pelas terras da Rainha, passavam horas no estúdio (Às vezes o nº 2 de Abbey Road), estudando, experimentando, aprendendo e ensaiando A partir de dezembro começaram a preparar o material para seu primeiro LP. O álbum foi produzido por Mal Evans e Toni Visconti.
O verão de 1969 chegou de forma muito mais brilhante. O álbum “MAYBE TOMORROW” dos Iveys está nas lojas!

DOWNLOAD:
http://www.4shared.com/file/l1o5Odh1/maybe_tomorrow_obaudoedublogsp.html
“MAYBE TOMORROW” não chega a ser uma decepção. A verdade é que não era um grande disco de Rock’n’Roll. É uma coleção de colagens de sons psicodélicos e referências a toda a cultura pop dos anos sessenta. Trouxe para as paradas a faixa título “Maybe tomorrow”, de Tom Evans, e “And her daddy is a millionaire”, de Pete Ham. O compacto contendo essas duas músicas entrou para a parada da Billboard em 67º lugar. O que não era nada mal. Mas também não passou muito disso. Mas os Iveys estavam contentes. Viviam numa casa espaçosa em Golders Green, tinham seus próprios fãs e eram amigos dos Beatles. O que mais poderiam querer? Um disco de sucesso!

THE IVEYS - MAYBE TOMORROW




Três meses depois do lançamento de “MAYBE TOMORROW”, todos já estão trabalhando no material de um novo projeto. Paul (McCartney) está compondo também a trilha sonora do filme “THE MAGIC CHRISTIAN”, estrelado por Peter Sellers e Ringo Starr. “COME AND GET IT” faz parte desse projeto. Paul quer que a canção seja lançada como compacto, pelos Iveys. Grava sozinho a fita demo que vai servir de referência para Pete, Tom, Ron e Mike gravarem. Durante essa época, aprendem muita coisa com o autor de “Yesterday”. Desde a postura que deviam assumir dentro do estúdio ao cuidado com a finalização e produção. Além de “COME AND GET IT”, Paul produziu mais duas canções para o álbum: “Crimson ship” e “Rock of all ages”. Em setembro de 1969, Ron Griffiths pediu para sair da banda. Sua namorada estava grávida e eles iam se casar em dezembro. Ótimo!

Ninguém, nem da banda nem da Apple, gostava do nome “IVEYS”. Achavam até que era o nome que estava atrapalhando o bom andamento das coisas. Pensaram, pensaram e não chegaram a lugar nenhum. John Lennon sugeriu “PRIX”, Paul sugeriu “HOME” e Neil Aspinall sugeriu “BADFINGER”. um nome estranho, diferente, mas com uma força enorme! Todos concordaram. Neil disse que esse era o nome de um disco velho de blues. “Badfinger boogie”. Os Beatles também usaram esse nome como título provisório do que seria “With a little help from my friends” do Sgt. Pepper’s.

O LP “THE MAGIC CHRISTIAN MUSIC” seria lançado em janeiro, já assinado como Badfinger. O problema agora é encontrar um novo cara para tocar com eles. No estúdio, a presença de Ron não faz falta, mas “ao vivo” a história é diferente. Novamente Neil Aspinall apareceria com a solução. Disse conhecer o cara certo para a vaga. Joey Molland era esse cara! Sem dúvida alguma, um dos melhores guitarristas da sua geração no final dos anos sessenta. Guitarrista? Sim, dos bons. A partir de agora, com a entrada de Joey, Tom vai assumir o baixo dessa novíssima e espetacular criação: BADFINGER.

5 comentários:

  1. Muito bom.Vamos continuar!

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  2. beleza, esta bacana,uma otima cultura para entedermos,vamos lá então..

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  3. adoro o badfinger, gostei do post, mas falar que os 70 foram fracos é conhecer pouco de música...os anos 70 foram os anos de o rock se soltar e criar asas...nos anos 50 nasceu o rock, nos 60 foi a sua infância, nos anos 70 foi a sua juventude (onde ele começou a beber e usar drogas), no anos 80 ele se casou e ficou meio chato, nos anos 90 ele se aposentou e em 2000 ele morreu...

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  4. O Badfinger foi uma Banda de Rock Clássico extraordinaria.E, para mim, muito mais interessante do que os Beatles. Seu líder, William Pete Ham foi um dos maiores gênios musicais de todos os tempos. Compôs mais de cem canções. Até 28 anos se faz muito pouco na vida. Pete Ham criou um mundo musical fantástico. Coisa que só um gênio pode fazer. A história musical de William Pete Ham é irreproduzível na espécie humana.

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